De tudo um pouco

Sunday, July 3, 2011

Sucker Punch, Mundo Surreal

Sweet dreams are made of this/ Who am I to disagree?/ Some of them want to use you/ Some of them want to get used by you…
Pense em uma pessoa azarada e multiplique esse azar por dez. Agora você tem uma leve ideia do que aconteceu à pobre Baby Doll (Emily Browning, “Desventuras em Série” de 2004 e “O Mistério das Duas Irmãs” de 2009). Quando sua mãe morreu, seu padrasto acreditou que iria ficar com todo o dinheiro dela, porém no testamento, a esposa deixava toda sua fortuna para suas duas filhas. Irado, ele agride Baby Doll e a tranca em seu quarto enquanto se dirige para o quarto da menor e a mata. Baby Doll chega tarde demais e o padrasto convence a polícia de que ela havia enlouquecido e matado sua irmã. No instituto psiquiátrico, o padrasto suborna o diretor para que ele faça uma lobotomia em Baby Doll para que ela nunca consiga sair de lá. Como eu disse, azar pouco é bobagem.



Where is my mind? Where is my mind?
Como ela não tinha outra saída, ela se refugia na própria mente. E é ai que o filme muda completamente. De um hospital psiquiátrico sujo e abandonado, vemos, na mente de Baby Doll, um cabaré, onde as meninas que moram com ela no hospital, são dançarinas escravizadas no cabaré do senhor Blue (Oscar Isaac, “Alexandria” de 2009 e “Rede de Mentiras” de 2008). Cada dançarina principal tem um número especial. E é quando Baby Doll precisa mostrar seu talento de dançarina que entramos mais uma vez (inception feelings) na mente dela e vemos um mundo imaginário fantástico, com samurais-robôs gigantes, segunda guerra mundial com nazistas zumbis de vapor, dragões e bombas poderosíssimas. E cada vez que Baby Doll dança, uma das meninas tenta por o plano de Baby em ação para tirá-las dali, pois em cinco dias ela irá sofrer uma lobotomia (técnica de cirurgia cerebral que consiste em cortar as ligações do lobos frontais com outras partes do cérebro o que causa um estado vegetativo no paciente, muito usado em séculos atrás no caso de esquizofrênicos). O filme poderia se dividir assim: a realidade, filmada como um lugar inóspito e cruel, o mundo imaginário com cores e cabaré, com visual de games e o mundo surreal de Baby Doll como um video clipe de CG e excelentes músicas com muita ação.



And if you complain once more/ you’ll meet an army of me
Zack Snyder é um dos diretores com a melhor estética visual no cinema atual. Basta lembrar de 300, por exemplo. Porém , ao contrário de 300 e Watchmen que são baseadas nas HQ’s respectivas, Sucker Punch é uma ideia feita especialmente para o cinema, ou seja, o diretor quis abusar de todas as técnicas para efeitos especiais que pudesse. Talvez esteja ai um erro de Snyder: ele abusa muito de slow motions, de computação gráfica, abusa tanto que do meio para o fim do filme acaba não surpreendendo o espectador, pois ele já está cansado de tantas cenas em slow. A maioria das cenas de ação no cinema é feita em slow para que a plateia possa ver com detalhes tudo que aconteceu em frações de segundo e se espante com tanta riqueza na imagem. Mas usar essa técnica repetidas vezes torna o filme cansativo (pelo menos para mim). O inception de um mundo dentro do outro funciona muito bem, principalmente pelos ambientes diferentes em que as histórias se passam. Interessante também é o uso de alguns objetos em todos os mundos, uma forma de manter o espectador ciente de que a história não está se perdendo e ainda segue uma sequência lógica.



A young fighter screaming/ With no time for doubt/With the pain and anger can’t see a way out
Um acerto é a trilha sonora. Todas as frases em itálico nesse texto são das músicas do filme. Muitas são cantadas pela Emily Browning e pelo Oscar Isaac, além de um mash up perfeito de I Want it All com We will rock you (duas músicas do Queen, para quem não sabe o que é rock ‘n roll… ¬¬). Sucker Punch é uma história sobre tiros, espadas samurais e lutas medievais com lindas garotas seminuas e com roupas fetichistas. Uma surpresa é ver Vanessa Hudgens atuando bem e Abbie Cornish, uma moça linda que lembra, e muito, a Nicole Kidman. É importante lembrar que os personagens são todos do ponto de vista de Baby Doll, uma menina muito estranha porque ela quase não fala (desconfie sempre de mulheres muito caladas e que não tenham celulite, fikdik), e que não convence muito nas cenas de luta – ela tem uma carinha de dó e não convence que ela te cortaria vivo pela metade como a Miho de Sin City, por exemplo. Como a grande maioria dos diretores atuais, Zack Snyder tem sua estética baseada em tudo que já foi lançado, criando um mosaico de referências a outros tipos de filme. A expectativa de como ele vai filmar Superman é grande, por não saber se ele vai fazer usar a sua marca ou fazer algo mais clichê. O final de Sucker Punch também é um pouco piegas (é aqui a parte onde meu bróder TedioDigital vai discordar de mim) filmes de ação não precisam de moral, apenas contos de fadas. Mas talvez Sucker Punch não seja apenas mais um filme de ação. É um filme para se divertir, comer uma pipoca e se encantar com todos os mundos que Baby Doll revela para você.

“Sucker Punch”, de Zack Snyder, 2011, EUA.


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